Páginas

Foto do fundo: Auto-retrato - São Miguel do Oeste - SC by Alice Elaine

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A Orchestra

Execução perfeita.
Nenhum erro. Sem falhas.
O maestro vibra a cada movimento.
Música bela.
Sonha a emoção da arte.
As últimas notas,
Espetáculo incólume.
Sentimentos aflorados,
Suor escorrendo por entre os cabelos,
Mãos firmes na batuta.
O derradeiro gesto.
Reverência aos músicos,
Olhos fechados,
Braços abertos.
Ouvidos atentos aos aplausos.
Nada!
Abre os olhos.
Gira o corpo devagar...
Ninguém na platéia...

domingo, 30 de agosto de 2009

O Bicho do Coração

Se for pra pensar num bicho preferido eu lembro sempre do mesmo animal...

Nem precisa nenhuma interpretação psicológica, eu mesma já forneço minhas razões.
Um animal de riscos perfeitos, músculos aparentes, olhos grandes e com cílios de figura imponente com patas vigorosas e lombo provocante pois amo ver a coluna deles como se fossem um vale raso entre montes.
Crinas longas, bem escovadas... deve ter um dono orgulhoso do bicho, caprichoso com seu amigo.
Símbolo de elegância, força e caráter! Tem bela figura e belo andar.
O doce bater das suas patas ao chão me atiça os instintos, dá vontade de montar em pêlo, segurar nas rédeas da emoção, galopar sem destino em alguma estrada de terra, onde a poeira levante e o vento estufe os meus pulmões.
Silueta de beleza, com um corcovear de liberdade.
Instrumento de guerra com a sua coragem e é parceiro do romance por causa de sua formosura.
Animal perfeito, com cores diversas, qualquer uma me atrai...
Na tua lombar eu sou mais forte, mais alta, mais rápida, mais bela e mais confiante.
Quantas razões ainda faltam pra justificar minha admiração?... Tenho todas!
Se imagino um animal que me remeta a alegria, esperança, o amor, o poder, a beleza e a liberdade, sempre vou lembrar desta criatura singular – o cavalo – e o guardo aqui dentro do peito!


sábado, 29 de agosto de 2009

O Bicho que Voa

Quem foi que disse que homem não pode voar?
Quem foi que disse tamanho absurdo?
Voar como um colibri...
Quem foi que disse, não sabe.
Não sabe, nem nunca experimentou.
Rodar, bailar e flutuar...

Nas plumas da saia esvoaçante,
O planar do encontro das mãos e passos,
O olhar de rapina penetrando na presa,
O vôo certeiro do pássaro
Deslizando no salão encerado.
Compasso, marcação e espaço...

Voar livre de verdade.
Com o sopro da melodia,
Cantarolada no ouvido.
O chão perde o sentido,
O céu, agora, é tão perto.
Plena liberdade...

Vôo alto, vôo rasante contra o vento,
Emoção como quiser.
Sem medo do abate,
Pairo por entre a formação
Mergulhos e alçar mais alto.
Com asas de sonhos sem tempo...

Olhos fechados, olhos abertos.
Gira qual criança.
Quem foi que disse que homem não voa?
É porque não encontrou seu par de asas,
Não encontrou seu par na dança!

Voando

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O Violão

Andando entre linhas by Alice


Como pode um som de cordas fazer tanta falta?
Ah, o doce som do trastejar...
Como queria eu, poder deslizar sobre ti meus dedos
Com perfeição e habilidade.
Amor platônico...
Nunca tive de ti um som sincero.
Melodia natural de quem tem o dom.
Mas como me faz falta...

E eu me acostumei a ouvir-te.
Todos os dias tu cantavas pra mim.
Era um dedilhar, uma canção incompleta
Era uma brincadeira ou coisa séria
Mas nunca fui eu que te dei prazer
Não era eu que te fazia soar assim.
Eu só arranhava, destruía tua sonoridade.
Quanto tempo eu tentei...em vão.
Desisti de te dominar.
Hoje só quero ser sujeita a ti.
Só quero poder te ouvir
Poder sorver tuas notas
Não me importo mais que as mãos não sejam as minhas.
É teu som que eu quero
Não preciso te tocar,
Não preciso te ver,
Basta sentir que tu estás ali
Soando pra mim...
Ah...
Minhas lágrimas acompanham teus acordes...
É o que eu posso fazer por mim e por ti.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A Garrafa Vermelha

Naqueles anos era comum, bem comum até, principalmente lá na minha terra.

Ter uma garrafa térmica era, e ainda o é, um utensílio de cozinha muito utilizado, principalmente se for acompanhado pela cuia e bomba de chimarrão.

Pois é, nós tínhamos também, uma garrafa térmica Vermelha, daquelas bem modernas pra época. Ela não era de abrir com rosca e servir o chimarrão, mas era de apertar. Esta eu podia usar, não exigia muita técnica pra utilizar, era só por a cuia embaixo, na parte oposta ao barranco da erva e apertar bem no meio... Talvez uma vez bem longa, ou duas ou três mais rapidinhas...

E ela estava lá... em muitas ocasiões da nossa vida gaudéria (termo que gaúcho gosta de usar, dá mais valor pras tradições).

Tenho até o registro dela em ocasiões inusitadas, como no churrasco realizado na sala de estar de casa, sob o frio intenso da cidade de Bagé-RS. Saída estratégica pra quem não tinha uma churrasqueira coberta mas era sortudo em ter uma lareira... nada que uma lata de tinta vazia e alguns tijolos não resolvessem o problema com o espeto.


Ah, mas ela era companheira da cuia, não esqueçam disso, esta garrafa não podia ser enchida com nenhum outro líquido que não fosse a água quente, água do primeiro chiar da chaleira, não era água fervida (água assim estraga o mate).

Outra ocasião de respeito ao qual guardo o devido retrato, é de uma pescaria, lá pras bandas de Dom Pedrito-RS. Terra boa, com gente boa, pescaria boa, comida boa! Muito peixe, traíra, amigos queridos, churrasco de encher os olhos.

Alguém duvida da autenticidade deste relato? Confira...


Veja uma legítima cena gaúcha: churrasco, terceiro sargento do exército fazendo a segurança local, cachorro ao pé do prato (diga-se de passagem que era a MINHA cachorra, PEPITA), bacia vermelha pra lavar as mãos antes da refeição e... lá está ela... a bendita Garrafa Vermelha e seu companheiro, o mate.

Mas o tempo passou, a ampola quebrou, o plástico secou, a gaitinha do fole furou... tornou-se uma Garrafa Vermelha sem serventia e se perdeu nas muitas mudanças que fiz na vida. Mudança de casa, mudança de cidade, mudança de estado, ah, mudanças... de cabelo, de corpo, até de estado civil e nome!

Hoje eu tenho várias garrafas térmicas, brancas, floridas, azul, inox e com cores até difíceis de descrever... mas não tenho nenhuma vermelha...

Aquela foi a única!!!

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Eis que é dia!

Abri os olhos, mas fechei com tanta rapidez que nada vi.
Abri novamente, agora de forma mais a espiar, vendo primeiro os meus cílios bem na frente (geralmente não se repara neles).
Ah, preguiça... espreguiça... suspira... inspira...expira!
Derrepente dou-me conta das perspectivas a frente... novidades, quanta coisa para fazer...
Agora sim, abro bem os olhos, pois vejo o horizonte brilhando, vejo as sombras da manhã, vejo o início de um caminho.
Como quem não sabe o que fazer eu começo este blog, preciso de palavras, preciso de imagens... é e preciso de emoções!
Quem sabe falar de uma foto, um acontecimento, um sentimento ou uma pessoa...
Achei!
Falarei sobre o que me levou a escrever... meu amigo, um poeta... é um bom começo!
Eis que o vejo em tons quentes, cores vivas. É seu sangue que corre por fora da carne, ele é contestador mesmo... Ele exala música pelos poros, canta enquanto respira, soa melodia pura quando fala, voz suave... cantiga de ninar.
Sabe, não consigo imaginar uma criatura destas dando murros em janelas e nem chutando portas... mas deve acontecer, faz parte daqueles que carregam o "Y". Talvez nem todos... quem sabe???
Pois é, ver esta pessoa impar, me fez ter vontade de escrever, afinal, ele escreve de forma tão simples, quando leio suas linhas ele aparece novamente ali, na minha frente, sentado no chão, as costas no muro, parece até confortável, como se estivesse em um divã, mãos sujas, pele transpirando o cansaço do dia, dia de trabalho pesado. Esta é uma memória antiga, o que eu via há uns 20 anos atrás... É a memória que marcou um pedaço da minha vida, foi marcada com ferro quente, mas com anestesia local...
É isso, além de muito mais, porém, todo mundo tem alguém que cruzou nossa estrada deixando o que é de melhor de si. Todo mundo, procurando em suas lembranças vai achar uma pessoa assim, que não se perde com o tempo e que a gente anseia reencontrar!
Eu reencontrei meu amigo e encontrei um motivo bom pra escrever!!!

Onde estão?