A copa mais alta by Alice |
O ruído agressivo e violento ecoa pela tarde como o
prenúncio da morte eminente. É um dia cinza e nublado, como se fizesse o pano
de fundo para o que estava prestes a acontecer. A indefesa e exultante árvore
não imagina o seu destino, nem por um segundo defende-se ou tem a possibilidade
de fugir. Espera passiva pelo ataque da monstruosa arma letal.
Um a um os galhos vão caindo, vão sendo desmembrados da
mangueira imponente. Belíssima, esta árvore manteve o frescor do verão próximo
às minhas janelas e à minha porta. Deu guarida aos ninhos das pombas e foi
poleiro, dos mais altos, para o cantar orgulhoso do Bem-te-vi. Ouve-se ao chão
o som oco da queda. Não há pássaros em volta, apenas a motosserra ruge seu
bramido ardente e faminto. A natureza faz o silêncio do luto.
O verde derrubado das alturas agora aguarda no solo a sua
completa ruína. Não há mais o que tremular ao vento, não há mais flores ou
frutos. Foi-se a alegria das crianças, a diversão dos felinos, o abrigo dos
pássaros e a beleza para a vista. O desejo de alguns traz a morte e a tristeza
para outros. A mais alta e imponente de todas a sua volta foi destroçada, é o
mau-agouro para as que ainda persistem...
É o fim. Acabou-se a ilusão e a esperança de que os algozes
pudessem mudar de ideia. O carrasco implacável leva a cabo seu objetivo.
Finda-se então uma história repleta de vida e abundância. Hoje escrevo com
pesar o obituário de uma das minhas mais amáveis vizinhas.
Toco da Mangueira by Alice |
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